Desafio da Última Linha

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Desafio dos Neologismos - Encerrado
Desafio dos Títulos -Encerrado


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

[Desafio] Lama

De que me vale todo esse castelo que não construi, se não sou íntegra? Ando cansada, embora mal use minhas pernas para caminhar sozinha: sempre tive uma legião para atender a todas as necessidades que tinha e destinha.
Não estou nua, mas rasguei meu vestido, aquele que não sei quem coseu.
Tampouco estou bêbada. Acho que nunca estive de mais sóbria em todo o sempre, se é que o tempo existiu antes de eu nascer e, agora, nascer.
Agora eu quero o mar inteiro, sem vidro. Quero voar, sem madeira ou metal. Quero sair da linha, eu bonde, conduzida.
Agora eu quero afundar completamente na terra, sentir o gosto do chão, do podre, da carne em putrefação até vomitar - essa minha expressão que, descubro, é a mais sincera e secreta. Quero misturar-me aos porcos, aos pombos, aos ratos, às mais vis bactérias, eu que sempre fui mais rota que o asco por si.
Quero morder a carne, ainda que a minha , sentir o gosto da substância, aquilo que move o mundo e que por tanto tempo me foi negado.
Quero deitar nos campos e me deixar levar pelo cheiro das dardípias, vivas ou mortas, sob a chuva ou não, porque o meu desejo é de ser, é viver o momento, o instante-já, o não importa.
Quero chegar ao mais fundo o possível, para que eu possa enfim entrar em equilíbrio com o universo, o cosmo, o inferno que for. Entrar em equilíbrio comigo mesma, embora não seja a paz garantida.
É a partir de então que eu conseguirei o que quero, embora ainda não saiba o que quero de fato. Acho que quero o fato, a Verdade absoluta: eu. Eu sou ou não sou um fato?
Eu sou, aqui.
Eu sei.

Próxima palavra: Taruela

sábado, 19 de dezembro de 2009

Amélia

Tô cansada de viver
com esse estrupício
Chego em casa sempre tarde,
faço sacrifício.
E ele só no bem-bom
Rei do desperdício.
Vou te dizer, meu amigo:
Viver é difícil.
Vou me emputecer de vez
vou morar no hospício.
Melhor que nesse barraco
Que nesse edifício.
Vou explodir essa merda
Vou jogar um míssil.
Esse grande vagabundo
Só traz malefício!
Ele tá enorme, moço:
Não faz exercício.
Um dia vou me jogar
De um precipício
Pra mostrar pr'esse maldito
Pra esse patrício
Que meu esforço foi fato,
não foi fictício.

Pausa e respiração

Pensando melhor, de amor
Existe um resquício.
Entre a raiva e o ódio,
há um interstício!
Ele me faz mal, mas gosto:
acho que é meu vício.
Ele é ruim, mas é meu,
e é vitalício!
Por ele, acho que aguento
Todo esse suplício
Ele é gordo, mas gostoso.
(É alimentício!)
Suportá-lo, enfim, parece
ser o meu ofício
Mas se me desrespeitar
Eu volto pro início!