Desafio da Última Linha

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quarta-feira, 21 de julho de 2010

1. O mago (Le Bateleur)

Apenas a aparência do homem que chegava à cidadela aquela noite já seria suficiente para justificar a movimentação que lá haveria por tanto tempo.

Destoava completamente de qualquer habitante; a começar pelos cabelos louros que cascateavam do enorme chapelão, cabelos que em nada se assemelhavam aos tufos negros e quase imóveis da cabeça dos cidadãos, salvo talvez pela sua composição química, isso se admitirmos, frente a tanta diferença, ser o homem da mesma espécie dos que o recebiam – com riso, espanto ou ambos.

As roupas de cores fortes que vestia também eram de grande estranhamento e destaque se postas ao lado da cinzez das mantas e capuzes usuais da região.

Foi sem se incomodar com os comentários, fofoquetas e burburinhos que ele se instalou numa hospedaria qualquer. Não dormiu, não era desses: só se permitiu descansar da viagem que fizera.

Cedo, pouco depois de iniciar o dia, partiu com sua bagagem (duas grandes e pesadas malas de mão) para o mercado aberto da cidadela.

Lá, de uma mala, não tirou mais do que alguns pedaços de madeira, com os quais improvisou uma mesa, sobre a qual pôs uma das malas, da qual tirou uma sineta, a
qual tocou aos quatro cantos, de modo a atrair a atenção para si. Mais ainda.

E já se formava uma discreta plateia (sim, discreta porque o que gritava em cores era ele), ávida para saber o que trazia tão distinto jovem.

Então, ele tirou da mala sobre a mesa um globo azul, que segurou por meio de um fio.

Mostrou-o com certo mistério à multidão. Quando todos já não podiam se conter de curiosidade, o homem deu um pequeno tapa no objeto, de modo que este se pôs a girar.

À medida que girava, sua superfície se transformava. Do azul, surgia uma tímida mancha verde, que aos poucos se expandia e, ao estar já enorme, se rompeu. E as manchas verdes iam lentamente se tornando acinzentadas, umas mais do que as outras.

Algumas manchas, as do topo e do fundo, de verdes, faziam-se brancas.

O público fitava maravilhado a criação do homem. Se era mágico o espetáculo que ele trazia, era ainda mais mágico ver o olhar de todos, atentos.

E, de vez em quando, ouviam-se alguns estalos vindos da invenção, que tomavam as pessoas de surpresa – e de um certo temor.

Luzes saíam do cinza. Do azul se fazia o preto. E o espetáculo de cor, luz e secos sons era de acelerar o coração.

Foi quando, com um gesto rápido com a mão livre, o homem pediu para que as pessoas se afastassem. Obedeceram, mas a tensão já estava formada: e agora? O que é que essa máquina vai fazer?

O globo foi se tornando arroxeado por completo. Uniformizou-se, como se uma névoa se apoderasse de sua superfície. E a névoa passou a trocar de cor de forma rápida e constante. Verde, vermelho, amarelo, roxo, cinza, preto, azul, branco, verde de novo, roxo de novo, rosa, vermelho, vermelho, vermelho, vermelho e

Explosão. O globo irrompeu num alto estalido, culminando numa espantosa apresentação pirotécnica, recebida com aplausos calorosos que se recuperavam do susto.

Não é preciso dizer que a mercadoria daquele homem foi um sucesso e que logo após já havia dezenas de pessoas – inclusive mercadores locais – a se estapear para comprar um exemplar para si.

O estoque, que não era extenso, não durou muito, e o homem partiu, sorrindo, sob uma chuva de aplausos e gritos entusiasmados (em especial daqueles que conseguiram adquirir o joguete).

Como era de se esperar, os globos vendidos logo desapareceram, mas perduraria para sempre, naquela cidadezinha, a lembrança daquele homem tão esquisito e do que ali havia começado.

3 comentários:

Pedro disse...

O efêmero eterno.

Borealis disse...

Era o cigano Melquíades!

Unknown disse...

Ainda não tinha visto... acho q já tinha se desfeito... :P