Desafio da Última Linha

Acompanhe aqui as sugestões de cada um:

Desafio dos Neologismos - Encerrado
Desafio dos Títulos -Encerrado


segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

[Desafio] Lama

De que me vale todo esse castelo que não construi, se não sou íntegra? Ando cansada, embora mal use minhas pernas para caminhar sozinha: sempre tive uma legião para atender a todas as necessidades que tinha e destinha.
Não estou nua, mas rasguei meu vestido, aquele que não sei quem coseu.
Tampouco estou bêbada. Acho que nunca estive de mais sóbria em todo o sempre, se é que o tempo existiu antes de eu nascer e, agora, nascer.
Agora eu quero o mar inteiro, sem vidro. Quero voar, sem madeira ou metal. Quero sair da linha, eu bonde, conduzida.
Agora eu quero afundar completamente na terra, sentir o gosto do chão, do podre, da carne em putrefação até vomitar - essa minha expressão que, descubro, é a mais sincera e secreta. Quero misturar-me aos porcos, aos pombos, aos ratos, às mais vis bactérias, eu que sempre fui mais rota que o asco por si.
Quero morder a carne, ainda que a minha , sentir o gosto da substância, aquilo que move o mundo e que por tanto tempo me foi negado.
Quero deitar nos campos e me deixar levar pelo cheiro das dardípias, vivas ou mortas, sob a chuva ou não, porque o meu desejo é de ser, é viver o momento, o instante-já, o não importa.
Quero chegar ao mais fundo o possível, para que eu possa enfim entrar em equilíbrio com o universo, o cosmo, o inferno que for. Entrar em equilíbrio comigo mesma, embora não seja a paz garantida.
É a partir de então que eu conseguirei o que quero, embora ainda não saiba o que quero de fato. Acho que quero o fato, a Verdade absoluta: eu. Eu sou ou não sou um fato?
Eu sou, aqui.
Eu sei.

Próxima palavra: Taruela

sábado, 19 de dezembro de 2009

Amélia

Tô cansada de viver
com esse estrupício
Chego em casa sempre tarde,
faço sacrifício.
E ele só no bem-bom
Rei do desperdício.
Vou te dizer, meu amigo:
Viver é difícil.
Vou me emputecer de vez
vou morar no hospício.
Melhor que nesse barraco
Que nesse edifício.
Vou explodir essa merda
Vou jogar um míssil.
Esse grande vagabundo
Só traz malefício!
Ele tá enorme, moço:
Não faz exercício.
Um dia vou me jogar
De um precipício
Pra mostrar pr'esse maldito
Pra esse patrício
Que meu esforço foi fato,
não foi fictício.

Pausa e respiração

Pensando melhor, de amor
Existe um resquício.
Entre a raiva e o ódio,
há um interstício!
Ele me faz mal, mas gosto:
acho que é meu vício.
Ele é ruim, mas é meu,
e é vitalício!
Por ele, acho que aguento
Todo esse suplício
Ele é gordo, mas gostoso.
(É alimentício!)
Suportá-lo, enfim, parece
ser o meu ofício
Mas se me desrespeitar
Eu volto pro início!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Inominável

Chovia e estava um pouco escuro, mas tudo se iluminava quando relampejava. Ele andava um pouco trôpego, mas confiante, mesmo que não soubesse muito bem aonde estava indo.
Parou.
Que fazer? Não sei e já nem quero saber.
Embora perdido, felicitava-se:
Estava livre, mesmo não sabendo muito bem o que fazer com isso.
De princípio estranhou, porque estar, assim, solto, era novo demais. Era reconfortante, apesar de impossível de se nomear efetivamente. Sentiu-se acarinhado, pôs-se a caminhar novamente.

Não havia ninguém por perto, para testemunhar o que se seguiria.

Do nada, veio o tiro, que tirou completamente a liberdade do rapaz e deixou a boca, antes com o gosto do inominável, com gosto de sangue, real e concreto.
Ele voltara ao concreto do chão.

sábado, 3 de outubro de 2009

Os pequenos espectros

Ao contrário do que se vê na crença popular, os pequenos espectros caminham a qualquer hora, podendo inclusive aparecer à luz do dia, andando trôpegos e lentos, como sempre fizeram.

Estão perdidos, mas andam certos, mesmo que para lugar nenhum, já que não têm lugar.

Embora não se deem conta de que o fazem, existem por aí, com a intenção magna de um ser: procurar a existência plena.
A subsistência.
Eis a razão de ser deles, que mal têm o que vestir. Andam sujos e surrados, preocupados apenas com o agora, o instante-já, porque o futuro a Deus pertence – e Ele há muito tempo se esqueceu desses seus filhos sem alma.

Um dia, quem sabe, encontrarão a luz e voltarão aos braços do Pai eterno.

Enquanto não o fazem, continuam aos pés do pai terreno, que os dá um luzir de alegria dentro da caverna de suas vidas, onde a esperança e o futuro já desistiram de chegar.

sábado, 12 de setembro de 2009

Ignorância

Ultimamente venho flertando com o conceito da inexistência, com o conceito do não-aqui, da inverdade que se faz presente simplesmente em sua consolidação cabal. Flertei com o conceito de consciência, de cotidiano, de tempo, de distância, de pensamento. Cheguei a uma excelente conclusão:

Nada.

Nada sacramenta mais minhas descobertas sobre a inexistência que o vazio de um nada que, por mais que verbal, inexiste, existindo, e se prova e reprova contrário a si próprio na própria criação de uma palavra para designar o que, por natureza, é impassível de designação.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Lamentação

Já faz um tempo que descobri. Foi na pré-adolescência. O tempo que demorei para dominá-lo é inumerável. Creio que até hoje não o controlo muito bem, mas não é exatamente esse o meu lamento.
Muito prazer, tenho um super poder.
Sei voar – levitar, para ser mais exato – mas não me peça para explicar como: eu mesmo não sei e há coisas que talvez seja melhor ignorar.
Não pense, porém, que com isso, grandes responsabilidades aparecem. Para dizer a verdade, o que eu mais gostaria era ter, de fato, uma responsabilidade.
Não sou super herói.
Cresci assistindo a vários clássicos, que me inspiraram a usar meu dom para o bem, mas quanto mais me controlava, mas via que eu não poderia fazer grande coisa.
Eis que tenho um poder maravilhoso, mas que não pode ser usado em prol da humanidade.
Não posso lutar contra bandidos: não tenho uma força invejável e nem sou à prova de balas.
Também não posso salvar pessoas em um trem desgovernado, afinal não tenho grande velocidade.
É como se eu fosse um pássaro. Desnecessário e dispensável.
De que me adianta ter um poder –e ter, com isso, que viver, de certa forma, escondido, de ter locais específicos para usá-lo - e não servir à população com isso?
Onde ficam minha coragem e minha auto-estima, se no meu sonho quero algo para defender as pessoas e, no fim, só tenho algo que me permite fugir do perigo, se ele aparece?
Resta-me, enfim, aproveitá-lo eu mesmo e lamentar, aqui nesse bar, minha inutilidade.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Herói de ninguém

O dia havia sido cheio. Cansado, o rapaz tomou um ônibus para casa, tal como fazia quase sempre.
Já se habituara à falta de educação alheia, mas lutava secretamente para educar as pessoas, ainda que timidamente, sem palavras. Para tanto, limitava-se aos gestos - sempre amplos, como que para indicar os procedimentos corretos.
Nesse dia em especial, um mal-educado aleatório, sentado à sua frente, jogou um papel de paçoca no chão.
Vendo isso, abaixou-se o rapaz com todo o cuidado para pegar o tal lixo, apesar de estar num ônibus cheio.
Recolheu-o e o guardou na mochila. Ao olhar à sua volta, ninguém havia percebido seu inacreditável ato heroico em relação à integridade do veículo. Ele havia salvado o ônibus da total imundície e não recebera em troca um olhar, um sorriso que fosse, um apoio, um suporte para que pudesse continuar lutando em prol da limpeza e do asseio do transporte público!
Não é que esperasse algo mirabolante. Não queria nenhuma condecoração, mas não precisavam continuar todos absortos em seus pensamentos e aparelhos eletrônicos! Ser notado já seria alguma coisa.
Saltou do ônibus e pôs-se a caminhar para casa, tal como fazia quase sempre. No caminho, uma senhora com seus muitos anos o pediu para indicar o caminho da estação de metrô. O rapaz se ofereceu para acompanhá-la até a estação, já que aquela região não era a mais segura da cidade.
Como toda boa velha, durante o relativamente curto percurso ela lhe contou toda sua vida, desde os motivos que a fizeram pegar o metrô até a destinação a que ia, passando pelas razões de não pegá-lo sempre.
Chegando à estação, a velhinha se virou para ele:
-Meu querido, muita bênção na sua vida! Obrigado por acompanhar a vovó, viu? Qual seu nome? Vou orar muito por você! Porque lá na minha igreja...
E após um minuto de solilóquio, ele se despediu e ela adentrou a estação.
O rapaz não era religioso, mas uma bênção divina já era um ótimo motivo para continuar sendo gentil e educado em relação à vida. Era uma forma que ele tinha de agradecer os bons ventos que acompanhavam. Diferente, enfim, das religiões, as boas ações que fazia não eram uma forma de conseguir créditos com Deus. Estava abençoado por quem quer que fosse, mas o sorriso daquela senhora já foi tudo.
Enquanto isso, no ônibus que ele deixara, os passageiros comentavam em voz baixa: Aquele moço lá sempre pega o lixo do chão. Depois deve vender e ganhar dinheiro. Tão bonito, tão jovem e já vivendo assim. Esse mundo é muito cão mesmo.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

[Desafio] Mercado aberto

Por ser caixeiro-viajante, por muitas bandas havia passado. Conhecera muitas pessoas, travara relações, amizades, inimizades. Eram tantos rostos e tantos lugares que há muito tempo as coisas tinham deixado de lhe impressionar. Mulheres barbadas, já vira umas trinta; sereias, conhecera uma (muito simpática, por sinal), enterro de anão, já participara de vários, sendo coveiro em uma pequena parte deles, aliás.

Como dito, há muito tempo, as coisas não lhe impressionavam mais.

Mas não deixavam de lhe dar uma certa alegria secreta, porque eram a prova de que ele era livre, de que podia sair por aí como bem entendesse e levava a vida que sempre sonhara: sem raízes.

(Só que isso não interessa no momento. A felicidade dele não é o que eu quero contar. Quero contar-lhes sobre aquilo que reacendeu a chama do espanto e da inquietude dentro do caixeiro.)

A vida seguia tranqüila como sempre fora, apesar de movimentada. Ele chegou numa cidade conhecida, à noite e hospedou-se num hotelzinho qualquer. Resolveu, porém, sair à noite e aproveitar a feira noturna que funcionava na cidadela (aquela em que trabalharia no dia seguinte) sem grande compromisso. Foi se divertir, enfim.

As cores cálidas, as luzes fortes, os cheiros inebriantes, a balbúrdia dos barraqueiros, tudo era lindo e inesperado para qualquer um, exceto para ele, que lançava sobre tudo um olhar blasé, de déjà-vu, mas se divertia por dentro.

Andou mais um bocado, até se deparar com uma multidão que se atulhava numa roda, em torno de algo que não se podia ver direito do ângulo em que ele se encontrava. Foi, então, ver o que se passava. Provavelmente um grupo de palhaços ou atores.

Chegando lá, depois de empurrar fulanos e beltranos, viu que se tratava de um espetáculo não de palhaços ou atores, mas de bupons. Os bupons riam, brincavam, jogavam com os espectadores, tudo numa alegria que se espraiava para todos.

É claro que já tinha visto um bupom, mas esses eram de certa forma especiais. Eles tinham um encantamento tal que era impossível ficar indiferente ao espetáculo.

Terminado este, todos foram às suas casas, mas o caixeiro continuou lá, atordoado, atormentado. Não sabia muito bem o que fora aquilo, o que aquilo que vira tinha representado, mas isso, com toda a certeza, mexera com ele, e isso era tudo. Depois de um tempo, conseguiu se recuperar do choque e foi para sua hospedaria. E dormiu.

No dia seguinte, antes de montar sua venda, procurou saber mais sobre o grupo que passara por ali. Perguntou para outros fulanos e beltranos, mas ninguém de nada sabia. Era como se nada tivesse acontecido.

Abriu, então, a barraca e começou a vender, como sempre. Era triste, mas a vida continuava. Com ou sem a trupe de bupons.

Dizem que ainda hoje ele pergunta para todos os fregueses de todos os lugares por que passa se eles viram aquele grupo de bupons, com esperança de poder, de novo, sair do estado de indiferença que a vida viajada lhe deu.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ode à mediocridade

Louvemos os sem-talento!
Louvemos os médios em tudo!
-Aqueles que fazem o mundo
E não se destacam em nada!

Louvemos também os conformados!
Os sem sonho, os sem garra
Os que pensam pequeno demais
E os que se contentam com pouco!

E não esqueçamos os árcades,
Que só querem uma casa no campo
Onde possam plantar o bastante
E nada de nada de mais!

Louvemos ainda os neutros!
Que se vestem em cores pastéis,
Que não chamam atenção, não fazem falta
E nem ocupam espaço!

Dêmos um viva à mediocridade!
Medíocres de todo o mundo, unamo-nos!
Para que continuemos na média
E não façamos grande coisa!

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Uma ideia que, por acaso, é frívola

Já que o desafio dos neologismos não parece ter feito muito sucesso, penso em propormos outro. Já tenho um em mente, que nos confere um pouco mais de liberdade. Enquanto isso, a todos os não-ideio-frivoleiros que por aqui passarem, peço que nos deem uma ideia para o próximo desafio. Quem sabe não é precisamente uma perspectiva externa o que nos falta.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ritmo

Numa pulsação,
eu me alimento
da ideia de você,
e de seu cheiro,
e de seu rosto,
e do som que te escapa,
um suspiro gelado,
um pavor abafado,
a vontade de ver
e ouvir o vapor
que te sai
e me entra
e me foge
e me lê.

Você me dá o ritmo,
você me dá a rima,
você me dá a lima,
só não me dá você.
E de que adiantam
ritmo,
rima,
lima,
sem você?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pedaço de um relacionamento qualquer

Dia desses eu disse que te amo.
Agora eu me pergunto se você reparou quanto tempo tinha que eu não falava. Não que eu tenha deixado de te amar (meu amor por você é pra sempre, afinal), mas é que aconteceu um não sei o que. Ou talvez eu saiba. Sei lá, é tudo meio confuso.
Talvez o excesso de convivência, ou será que eu finalmente mudei? Talvez a pressão, eu não a descarto. É que perfeição não se alcança, e eu não consigo por mais que eu tente, e você deveria saber disso mais do que ninguém. Não é você que me conhece como a palma da sua mão - ou pelo menos acha e insiste nisso?
No fundo, no fundo, eu só peço que você me peça menos, um pouquinho só. É que eu tento mais que tudo ver seu lado, e a verdade é que eu vejo com perfeição. Mas eu também acho que você não vê o meu. E se você visse pelo menos um pouquinho, já seria bem mais fácil e aí, talvez, eu pudesse voltar a dizer feliz que isso é um relacionamento. Porque do jeito que tá nem parece, e também não dá alegria.
E vê se não esquece que eu falo isso pro nosso bem, e que eu te amo, tá? Pra sempre.

Eu só quero paz.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Parte 3

E para a minha supresa,
o telefone um dia é fera,
e a sua voz rouca e tesa
grita, conta e desespera:
Você pede pra eu voltar, seu idiota,
não entendeu ainda estar sozinho?
Precisa que eu desenhe, meu amorzinho,
ou te deixo traçar a velha rota?
Se as suas vadias (ai, é foda!)
pros seus filhos cagam,
e se à noite não o afagam,
isso é seu, enfia e roda.
Eu sei que estou longe,
e é necessário,
mas se você os matar, meu conde,
é obituário.
Me culpa! Me difama e me culpa,
seu canalha,
que enquanto a sua baiana loira te chupa,
o seu destino na sequoia se talha.
Nos veremos em breve,
eu te prometo,
enquanto isso ou seja leve,
ou veste preto.

domingo, 7 de junho de 2009

Opa, uma invasãozinha

Pedro,
Aqui é o Winston.
Desculpe por 'invadir' seu blog.
Eu estava trabalhando tranquilamente noutro blog. De repente, tudo fechou. Ao abrir novamente apareceu-me o "Idéia Frívola".
Bem, já que estou aqui, deixe-me dizer:
A menina Cássia, da coluna "QUEM", poderia possuir um TOQUE DE EXCENTRICIDADE, excentrecismo, NUNCA.

Twitter: LanternaBrejo

quarta-feira, 22 de abril de 2009

[Desafio] Excertos do diário de um naturalista

"18 de janeiro, 1899.

Hoje chegamos ao vilarejo de que nos falara o nativo. Lung-Tsong não cumpre mais tanto o papel de tradutor, uma vez que o dialeto que se fala nessas aldeias daqui é ininteligível para ele; suas habilidades com a jangada são muito úteis, assim como os unguentos para mosquitos que nos trouxe.

Desde nossa partida da aldeia, ontem, a mata se adensou, e agora o terrível odor acre que impregna tudo, até a água do cantil, recrudesceu. Perguntei a Lung-Tsong do que se tratava, mas ele não soube responder. Superei o asco, e agora consigo mascar os vermes que descrevo no capítulo IX de "Notas sobre as viagens à Umpalúmpia". O gosto não é tão mau, mas devo admitir que a textura me dá ânsia de vômito. Não é melhor que chicles tutti-frutti, mas realmente ajuda a suportar o cheiro. (...)

Estou começando a me acostumar à água turva do rio e a não saber que tipo de criatura nada por ela. Uma planta especial me tem fascinado: Smithum cærnidari. (...) Nela, parecem concentrar-se uns pernilongos realmente enormes, com umas listras vermelhas. Lung-Tsong disse-me que não me preocupasse, mas eu tenho lá minhas dúvidas.

No vilarejo, fomos bem recebidos. Lung-Tsong tentou se comunicar com o chefe local, mas não sei se conseguiu. Almoçamos um peixe delicioso, de carne rosada, quase doce, mas cuja limpeza temo ter sido negligenciada. Eles nos disseram que o animal que procuramos costuma ficar em bandos a umas duas horas de jangada, rio acima. Vamos até lá pela manhã.

(...)

19 de janeiro, 1899.

Definitivamente, o peixe estava sujo. Uma crise de diarreia atrasou nossa partida em umas boas duas horas, mas a filha do chefe me trouxe um chá muito oloroso, e em pouco tempo me recuperei. Quando pedi a Lung-Tsong que lhes dissessem ter sido o peixe o causador de meu mau-estar, ele me advertiu -- é um grande faux pas.

Subimos a bordo da jangada e, em menos de duas horas, avistei um vulto sorrateiro à margem esquerda do rio. Minha intuição me certificou: era ele. Calmamente atracamos a embarcação rústica e demos passos curtos pela trilha que pensei ter seguido o bicho. A mata era muito densa. Umas folhas pontiagudas me espetaram o rosto e os antebraços. Mais tarde descobriria que se tratavam de folhas de rongbi azul, de cuja seiva se fazem uns malagmas milagrosos vendidos no ocidente a preço de ouro (...).

De repente, uma clareira se abriu a nossa frente. Entendi que qualquer ruído poderia perturbá-los. Não deviam ser muito agressivos, mas não queria espantá-los. Gesticulei a Lung-Tsong que não se mexesse. Milímetro por milímetro, nossos pés avançavam silenciosamente pela grama úmida (ink-gebom, segundo Lung-Tsong).

Eram magníficos. O espesso pelo preto, os pequenos olhos pretos eram como dois botões brilhantes, perdidos dos lados da cabeça. As pernas longas e as garras afiadas nos pés nus. A tamanho de um cão dálmata. A cabeça era como a de um rinoceronte, mas sem o chifre, obviamente. As orelhinhas eram mais compridas, e a gordura das bochechas caía como a de um buldogue. A cauda era o membro mais fascinante. Era comprida e, na ponta, formava-se algo como uma pequena maça. Não era de tecido ósseo, mas não sei dizer qual é a substância. A maior parte deles, quando andava, andava com a ponta da cauda se arrastando pelo solo, e isso funcionava como demarcador de território, porque essa "maça" exalava um almíscar de intensidade moderada. As fêmeas ficavam todas juntas, com os filhotes, enquanto os machos faziam um esforço conjunto para rasgar pedaços de árvores e levar-lhes, para que se alimentassem.

Perguntei a Lung-Tsong se esses animais tinham nomes. E tinham: eram bupons, lindos bupoms. Enjaulei alguns e levei até meu laboratório em Java. Mais sobre o bupom e seus hábitos pode ser encontrado em "Notas", nos capítulos XXIII, XXIV, XXV e XXVI.

(...)"


Esquecera-me de dizer o meu neologismo:

"Dardípia".

terça-feira, 21 de abril de 2009

o primeiro neologismo

Já que o Pedro não definiu a primeira palavra, eu defino. E a pimeira palavra é....

Bupom

Novo Desafio -- Neologismos

Discutiu-se o lançamento de um novo desafio, tendo acabado o desafio dos títulos. A ideia frívola de agora é escrever a partir de neologismos.

Ao final de cada texto, o blogger deverá criar um neologismo -- tendo ele radicais e afixos identificáveis ou não -- cuja estrutura fonológica seja possível na língua portuguesa e que deverá ser usado como elemento principal nos textos subsequentes.

As regras para uso da proposta serão como as do desafio anterior: por rodada, um blogger poderá cunhar no máximo UMA palavra -- se não fosse assim, a quantidade de neologismos aumentaria em progressão geométrica.

Um breve exemplo:

[simulação]

Pedro escreve:

João foi à feira e comprou uma melancia rosa. O fim.

Neologismo: "crábida".


Cássia escreve:

Ananias adora crábidas. Elas são bonitas. O fim.

Neologismo: "lucurutica".


Victor escreve:

Lucuruticas são divertidas porque elas protegem os golfinhos. O fim.

Neologismo: "guicerice".

E assim ad eternum.

[/simulação]

Os textos serão, obviamente, sérios.

[Desafio - A Máquina do Mundo] Distopia Real

Em um futuro (distante ou não, fica a sua escolha) há uma sociedade. Nessa, existem Ministérios da Verdade, bebês se desenvolvendo bocais, livros sendo queimados e passando às desinteressadas gerações seguintes através de contadores de histórias, somas. Dessa sociedade, quem toma conta é o poderoso governo, mas quem manda são Umbrellas. Não há privacidade, mas há grandes tevês cobrindo as superfícies das paredes e pequenas caixas acesas pelas quais se pode ver e ser visto, escutar e ser escutado, e por onde cada indivíduo aceita ser controlado.

Nessa sociedade, na qual cada indivíduo pertence a todos, as emoções são distribuídas e apagadas, contidas, esquecidas e torturadas, até que haja amor somente pelo sistema. O sexo é liberado desde que não haja constância de parceiros ou não é liberado de todo, já que leva à felicidade desassociada da empresa controladora. Cada indivíduo é reconhecido e respeitado por determinadas vestimentas ou pela falta delas, pelos atributos físicos ou por sua falta. Cada indivíduo trabalha pelo bem comum da sociedade, mesmo que esse bem comum nunca o alcance, sua vida sendo sempre mais miserável que a da geração que o anteceu, sua crença de que essa é sempre mais próspera - fé e realidade degladiando-se no cotidiano.
Ali, ao mesmo tempo, a história é diferente. Ou é vista como algo ultrapassado ou é feita de acordo com quem a escreve e modificada ao seu bel-prazer. Ultrapassado e ridículo também é o ato de pensar – impressionante como as pessoas do passado gastavam tempo pensando, quando tantos jogos e diversões poderiam tomar seu lugar. A máquina desse mundo funciona sempre na direção da felicidade comum, do bem-estar geral e do progresso. A máquina desse mundo funciona sempre na direção do enriquecimento de quem o comanda, da potencialização do poder de quem está em seu topo e do agravamento da miséria de sua base. Afinal, 2 + 2 = 5. Viva o doublethink!
Qualquer semelhança na descrição dessa sociedade futurística e imaginária com as de Admirável Mundo Novo, 1984, Farenheit 451, Resident Evil, Equilibrium, Nós ou mesmo a nossa é mera coincidência.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cigarro

Dia outro vi poesia no auto-queimar de um cigarro,
Mas decidi que não era poético.
Decidi que suas cinzas são inútil mal,
E que sua fumaça polui meus pensamentos
E meus desejos.

Entendi, também,
Porque eu entendo as coisas muito facilmente, diga-se de passagem,
Que os cigarros são objetos fascinantes.
Mesmo.
Não como um ensejo interrompido e enferrujado.

Mas não tive vontade de fazer poesia -- poesia é para os fracos, disse eu, o poeta,
Resolvi fazer prosa,
Mas,
Terminando as linhas aleatoriamente,
E dando aos meus parágrafos a configuração morfológica de estanzas líricas.
Mas não é poesia.

Sabe o que é poesia?
Um cigarro:

Sempre belo e chama e aborto.
Sempre magro e branco e morto.
Sempre vivo e crebro e crasso.
Sempre traço e maço e inchaço.
Sempre ego e álcool e noite.
Sempre taful e alto e açoite.
Sempre moço e claro e gosto.
Sempre filho e amigo e rosto.
Sempre, sempre, sempre e sempre.

Mas eu não fumo e,
Pela última vez,
Não,
Eu não tenho fogo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Nosso Apocalipse

E você ali, deitado, entorpecido, o céu alaranjado com a aquarela destruidora. “Acorda”, eu pensava, eu queria. O nosso último contato carnal, era ali agora. Nós éramos toda a humanidade, cada um no planeta era a sua última e única humanidade – ensandecidos pela promessa fatalista, eram tomados; marionetes de tanatos e de eros. Num berro infeliz de bravura e luxúria, eu berro o seu nome, mas você não acorda, respira umas palavras, sem dor. Eu olho pela janela e vejo o laranja se avermelhar, numa funesta previsão cromática, era eu, à janela, pedindo aos céus que o mundo não acabasse, pedindo a quem fosse.

E quando você finalmente desperta: impacto, calor e morte. Nasce-se só e morre-se só; nasce-se pó e morre-se pó. Antagônicos e sinônimos, derradeiros e primevos... E no mesmo desespero calmo, apocalíptico e turvo, eu também acordo. Que calor.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Uma Fábula de Esopo Sideral

Vi um programa no National Geographic Channel sobre a ameaça dos asteróides à Terra. Nele, deram aos espectadores uma breve explicação sobre os corpos celestes (alguns chegam a ser do tamanho do estado norte-americano de Nova Iorque) e discutiram nossas opções para evitarmos que o planeta seja atingido por um. Dentre as estratégias propostas, destacam-se a deflexão, o desvio de rota e a destruição total. O documentário fez menção também aos três tipos diferentes de asteróides: uns são monólitos colossais, outros vagam pelo sistema solar em sistemas binários e há grupos de pequenas rochas espaciais que viajam ligadas pela atração gravitacional, os rumble piles. No momento em que se analisava a possibilidade do uso do arsenal nuclear americano para reduzi-los a pedaços, chegou-se à surpreendente conclusão de serem os rumble piles os mais perigosos, apesar de serem os de menor força de impacto.

Um cientista provou-o fazendo uma experiência simples. Sacou uma espingarda e armou a mais ou menos quinze metros de si um altar sobre o qual pôs, separados por aproximadamente dois metros, os três tipos de asteróides de faz-de-conta. Atirou, primeiro, na pedra solitária, em seguida, no par e, por último, numa pilha de pequenos seixos. Como me dizia o bom-senso desde o começo do experimento, a primeira pedra virou pó, o sistema binário perdeu a maior parte de sua massa, mas restaram alguns pedaços de tamanho considerável e o rumble pile permaneceu quase intacto, com a exceção de as pedras terem sido sutilmente afastadas umas das outras.

Moral da história: o resultado de uma tentativa de explodir um rumble pile com uma bomba atômica seria uma chuva de meteoros radioativos.

Segunda Pessoa

Você estava desaparecido, ninguém sabia o seu paradeiro. Claro, só você sabia. Era um beco cinzento que cheirava a lixo e mofo. Você tinha apanhado e pensava em mim. Tinha um hematoma muito feio no abdômen e um corte horrível no lombar. Eles haviam te chutado, socado, pisado. Mas você não sabia o que eles queriam.

Agora você estava numa sala de estar, inerte sobre um sofá, o ventilador soprando uma brisa artificial sobre seu corpo nu. Você sonhava, sonhava comigo, comigo. Você respirava suavemente, seu tórax para cima e para baixo num pulso fácil.

Então você estava num parque sentado sobre uma toalha vermelha xadrez, olhando o céu pensando que ia chover e em mim, pensando em mim, era de manhã. Era um piquenique solitário de primavera.

E era inverno e você estava se agasalhando no quarto, mas nenhum casaco combinava com as calças, as únicas limpas que você tinha, e você pensou naquele casaco que eu tinha, aquele cor de burro quando foge.

Você estava no computador, os olhos vidrados na tela, esperando eu entrar, me esperando, mas eu não venho hoje, eu não venho, eu vou te torturar, um pouquinho mais vou te torturar. Você se desespera, mas eu não apareço. Quando eu sinto remorso e entro, você já está dormindo...

Você está dormindo, sonhando comigo, está comigo sonhando... É um pesadelo, eu digo que te amo, você também, mas é mentira e você acorda e acordar dói.

Acordar dói.

Meu amigo escritor

Tenho um amigo escreve muito bem. Ele escreve sobre o que gostaria que acontecesse, sobre as coisas com que sonha. Mas nada do que ele escreve é verdade. Nada se realiza. São belas, mas são mentirosas, suas palavras.

O que ele escreve, o que sai de seus dedos, é o que engasga em sua garganta. Ele não escreve sobre o que fala, nem fala sobre o que escreve.

Suas palavras são como sonhos, elas não existem. Meu amigo acha perda de tempo escrever sobre as coisas que acontecem na vida se pode escrever sobre as que não acontecem... escrever sobre a realidade é confortar-se com a ineficácia dos sonhos.

Breves, pois, são suas palavras, pois pôr-se a divagar sobre sonhos é sonhar tudo de novo... e isso é tortura, meus amigos.

Despertar

Você acorda, suado. Gente espantada gritando te cerca, e você ali, metido naquele lugar branco, aquelas luzes inorgânicas contra você, tudo meio contra você; e aquela gente frenética se agitando, se agitando, gritando. Você abre os olhos de verdade e vê, e se revolta – num instante, você acaba e recomeça, e você retorna ao seu estado primordial de existência, você se torna uma consciência dormente dentro de um corpo deslocado e machucado, e numa reviravolta inesperada, sono. Agora você acorda de novo, não há ninguém nos arredores. Entra uma luz piedosa pela porta, uma luz amarela e cansada, e você também está cansado. Você tenta se sentir, você tenta se entender, mas há uns tubos, uns aparatos... e quando você se mexe uma dor aguda desperta e berra, uma dor que sai da camada menos externa da pele e perfura sua carne e chega até o âmago do seu ser físico. Você está mole, você está quase sem movimento – e numa agonia desamparada você dá um suspiro, aparentemente baixo, mas inegavelmente audível – as pessoas voltaram. Mais espanto, mas agora, uma calma estranha segue o frenesi, e uma pessoa embaçada cai de joelhos e se desfaz em soluços. Os seus olhos gradativamente captam coisas, coisas inidentificáveis, coisas indecifráveis, hieroglíficas, absurdas! Você está estirado sobre um leito enquanto estranhos ao seu redor falam uma língua ininteligível, numa espécie de caos organizado no qual você é o foco. Memórias, você as tem, e pouco a pouco as recupera. Você é um missionário, você tomou a força o corpo de um homem, um homem, aquilo que você não é, você é uma outra coisa, uma outra entidade, algo outro, algo que não se compara. Mas você está preso a este corpo. Com o tempo, você se lembraria da missão. Até lá.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

[Desafio] Cancelado devido a chuva

Eis que, então, o dia era chegado. A plateia encontrava-se afoita e apreensiva. Não era todo dia que, por aquelas bandas da bela cidade praiana, erguia-se tão primoroso castelo. E lá estava ele, imponente, como que a olhar para todos, que, de tão encantados com a obra, chegavam a ter borboletas no estômago, um frio na barriga dos de felicidade contida, pronta pra escapar num sorriso, numa risada, num enleio qualquer, especialmente naquele que construira aquilo tudo. Havia no mundo coisa mais bela que esse tal castelo, perguntavam-se os espectadores, prontos para o momento do corte da fita, o momento da inauguração, que abalaria a cidadela e traria um belo motivo para sorrir àqueles que ali admiravam a obra.

E a plateia era somente o Tempo e o construtor, que muito pouco se importava se as pessoas não reparassem em seu magnífico prédio, mas achava estranho que ninguém visse algo de tal magnitude, mesmo que não fosse o maior dos castelos. Era, achava, apenas questão de tempo para alguém notá-lo (dados o empenho e a velocidade com que tinha construído) e correr o burburinho cidadela afora. Porém, no local da inauguração, não havia ninguém que não ele, talvez por medo do tempo, que já não sorria como no momento da construção do castelo.

E o castelo era feito de areia, com formato de balde virado, uma bandeirola improvisada e com não mais que vinte e cinco centímetros, tendo lugar na praia. Pobre, mas bonito. Repare na forma com que a areia fica coesa e em harmonia com o adorno! Há no mundo coisa mais romântica ou barroca ou pré-moderna?

Alheio ao engenho e à arte do rapaz, o Tempo fechou-lhe a cara e resolveu parar de esperar a inauguração e cancelá-la, descendo chuva torrencial de verão e desconstruindo aquilo que o rapaz fizera. Eis que, então, o corte das fitas era cancelado.

É inveja. Inveja!

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Tem o peso de uma lembrança

Odeio Clarice.

Na verdade não, sabe, é tudo muito novo.

É que Clarice sempre tem um quê de tristeza, um quê de abandono - e aquelas epifanias não fazem bem a ninguém. Aí eu começo a ler e ter as minhas, e eu vejo claramente que entre nós jamais daria certo, porque foi tudo perfeito demais desde o início. E perfeição, meu bem, não leva a nada. Aí eu paro e vou pra livros com protagonistas podres e coloco nossos nomes no lugar.
Mas ai eu lembro de todas as suas qualidades que depois viraram defeitos e me dá um angustia daquelas ruins. Então eu tenho é que voltar pros meus livros femininos, que me dão uma angustia diferente que sempre me acalma de uma maneira estranha.
Mas eu não acho a calma, só você.


E então odeio Clarice ainda mais.



edit: versão 1.0, esperando ser editado

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Bobeirinha trivial III - Ao Pedro

Busco as rimas, nunca arredo.
Mesmo difíceis, eu cismo
Porque, eis o meu segredo,
Adoro um bom preciosismo!

(Você, por mim :P)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Parte 2

Eu tenho inveja de você
E de suas putas novas,
Novas putas, de azeite de dendê!
Você não lê mais as minhas trovas,
Eu te odeio,
E no meio disso tudo,
Sem rodeio,
No meio desse velho caralho cabeludo,
Eu cuspo no teu nome,
Eu canto. Aqui, tome
A tua velha carta
De compromisso... Estou farta!
Venho aqui me despedir,
Está na minha hora de ir,
Cuida das tuas crias,
Que não estarei nas cercanias.
Ensina-lhes o que precisarem,
Que eu decidi que sou egoísta,
Não se importe com o que custarem,
Eu vendi aquele colar de ametista,
Que você me deu de aniversário
(Você era extraordinário!)
Agora eu me vou, nada pasma...
(Lembra-te: o mais novo tem asma).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Parte 1

Ilumine suas placas, eu estou chegando.
Numa morte anunciada, e pouco crônica,
(espero ter-lhe enviado o memorando!)
chego e te digo, meu amor, hoje estou tônica.
E não mais me importo,
com métrica ou dialética,
nem com soar brega ou frenética,
Em meu próprio caos hoje me conforto.
E para que estrofes, meu amor,
Se não para dividir o meu sentimento indivisível?
Esse meu ardor,
Essa coisa tola e imprevisível!
Mas enfim, acabei me perdendo
Neste inútil meta-adendo,
Que só é intencional
Porque posso e sou a tal.
Como dizendo vinha:
Que saudade a minha
Dos tempos em que ainda
Eu era tua, e tu dizia que eu era linda...
Mas esses tempos passaram
E agora estou de volta,
Carrego os filhos que te amaram
E as marcas que minha pele não solta.
Me olha, me olha de novo,
Diz meu nome incrédulo, filho da puta,
Não finge que não escuta!
Quero te foder e ser teu estorvo!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Descanso

E quando a glória sobre ti cair,
Senta-te, amigo, para descansar.
Pois da vitória tu tens de fruir
E mais eu digo: até se isolar

Porque o guerreiro ao fim da batalha
Merece a paz do que vem finda a guerra,
Tirar o cheiro de sangue da malha,
E gozar mais ter ficado na Terra.

Porém, meu caro, não te acostumes
Com esse raro momento de nada
Posto que a Sorte de ti tem ciúmes

E chama a Morte - a grande aliada -
Para que mate a amada e, então, te dar
Outro combate em que possas lutar!

Bobeirinha Trivial II ou Agradeço

Agora, meu caro, imagina
Que loucura que seria
Se eu nascesse Maria?
Será que me acostumaria
A ser eu dentro de uma menina?

E teria a mesma consciência
Se nascesse em outra existência?
Teria os pensamentos meus
Se tivesse nascido Mateus?

Agradeço, pois, a Deus,
por não ter nascido em outros eus.

Que chato seria ser estrangeiro
Tendo a alma de brasileiro!
Cigarro fora do cinzeiro,
Naco de carvão fora da mina,
Francês em terra argentina!

Agradeço, pois, a Alah,
por não ter nascido lá.

Mesmo com certos pesares
Prefiro bem mais estes ares

E apesar da dureza em si
Ainda bem que eu me nasci!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Triste comunicado

É com enorme pesar que comunico a abolição de tão presente e importante elemento do blog.
Sentiremos saudades, acento agudo de "Idéia"