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quarta-feira, 22 de abril de 2009

[Desafio] Excertos do diário de um naturalista

"18 de janeiro, 1899.

Hoje chegamos ao vilarejo de que nos falara o nativo. Lung-Tsong não cumpre mais tanto o papel de tradutor, uma vez que o dialeto que se fala nessas aldeias daqui é ininteligível para ele; suas habilidades com a jangada são muito úteis, assim como os unguentos para mosquitos que nos trouxe.

Desde nossa partida da aldeia, ontem, a mata se adensou, e agora o terrível odor acre que impregna tudo, até a água do cantil, recrudesceu. Perguntei a Lung-Tsong do que se tratava, mas ele não soube responder. Superei o asco, e agora consigo mascar os vermes que descrevo no capítulo IX de "Notas sobre as viagens à Umpalúmpia". O gosto não é tão mau, mas devo admitir que a textura me dá ânsia de vômito. Não é melhor que chicles tutti-frutti, mas realmente ajuda a suportar o cheiro. (...)

Estou começando a me acostumar à água turva do rio e a não saber que tipo de criatura nada por ela. Uma planta especial me tem fascinado: Smithum cærnidari. (...) Nela, parecem concentrar-se uns pernilongos realmente enormes, com umas listras vermelhas. Lung-Tsong disse-me que não me preocupasse, mas eu tenho lá minhas dúvidas.

No vilarejo, fomos bem recebidos. Lung-Tsong tentou se comunicar com o chefe local, mas não sei se conseguiu. Almoçamos um peixe delicioso, de carne rosada, quase doce, mas cuja limpeza temo ter sido negligenciada. Eles nos disseram que o animal que procuramos costuma ficar em bandos a umas duas horas de jangada, rio acima. Vamos até lá pela manhã.

(...)

19 de janeiro, 1899.

Definitivamente, o peixe estava sujo. Uma crise de diarreia atrasou nossa partida em umas boas duas horas, mas a filha do chefe me trouxe um chá muito oloroso, e em pouco tempo me recuperei. Quando pedi a Lung-Tsong que lhes dissessem ter sido o peixe o causador de meu mau-estar, ele me advertiu -- é um grande faux pas.

Subimos a bordo da jangada e, em menos de duas horas, avistei um vulto sorrateiro à margem esquerda do rio. Minha intuição me certificou: era ele. Calmamente atracamos a embarcação rústica e demos passos curtos pela trilha que pensei ter seguido o bicho. A mata era muito densa. Umas folhas pontiagudas me espetaram o rosto e os antebraços. Mais tarde descobriria que se tratavam de folhas de rongbi azul, de cuja seiva se fazem uns malagmas milagrosos vendidos no ocidente a preço de ouro (...).

De repente, uma clareira se abriu a nossa frente. Entendi que qualquer ruído poderia perturbá-los. Não deviam ser muito agressivos, mas não queria espantá-los. Gesticulei a Lung-Tsong que não se mexesse. Milímetro por milímetro, nossos pés avançavam silenciosamente pela grama úmida (ink-gebom, segundo Lung-Tsong).

Eram magníficos. O espesso pelo preto, os pequenos olhos pretos eram como dois botões brilhantes, perdidos dos lados da cabeça. As pernas longas e as garras afiadas nos pés nus. A tamanho de um cão dálmata. A cabeça era como a de um rinoceronte, mas sem o chifre, obviamente. As orelhinhas eram mais compridas, e a gordura das bochechas caía como a de um buldogue. A cauda era o membro mais fascinante. Era comprida e, na ponta, formava-se algo como uma pequena maça. Não era de tecido ósseo, mas não sei dizer qual é a substância. A maior parte deles, quando andava, andava com a ponta da cauda se arrastando pelo solo, e isso funcionava como demarcador de território, porque essa "maça" exalava um almíscar de intensidade moderada. As fêmeas ficavam todas juntas, com os filhotes, enquanto os machos faziam um esforço conjunto para rasgar pedaços de árvores e levar-lhes, para que se alimentassem.

Perguntei a Lung-Tsong se esses animais tinham nomes. E tinham: eram bupons, lindos bupoms. Enjaulei alguns e levei até meu laboratório em Java. Mais sobre o bupom e seus hábitos pode ser encontrado em "Notas", nos capítulos XXIII, XXIV, XXV e XXVI.

(...)"


Esquecera-me de dizer o meu neologismo:

"Dardípia".

3 comentários:

Cássia disse...

um bicho deveras interessante.

meu deus, como você é rápido!! Achei muito interessante a sua escolha. Muito longe do que eu teria imaginado.

Pedro disse...

É bem patético comentar o próprio posto, mas mudei de foto no perfil, e preciso ver o que acontece.

Pedro disse...

Bom! A foto está certa.