Desafio da Última Linha

Acompanhe aqui as sugestões de cada um:

Desafio dos Neologismos - Encerrado
Desafio dos Títulos -Encerrado


domingo, 19 de outubro de 2008

Anfiguri para o azul escuro bem escuro

É azul escuro bem escuro,
quase negro,
mas tão somente quase.
Antes, o penúltimo nível.
Tão negro que só se vê um brilho
indefinível,
pobre visível resíduo de luz
que conduz ao refúgio.

Subterfúgio.

Sou um com o azul escuro bem escuro,
no duro.
Puro encantar indiferente,
desafio dos, aos, nos meninos...
Redondos, vítreos.
O sinistro e o direito discutem.

Quantas Macondos há?
Heim?

Galhos curvos
refletem
em
rios turvos.

Enganam-se.
Rebelam-se,
na parcialidade
azul escuro bem escuro,
na eternidade
frouxa,
na passividade
louca.

Rouca
está a voz dos sonhos.

Pouca.

Chacoalhe, adicione uma colherada de
suor, sonhos sadios, sábios sabiás súbitos, salgados
cúbitos. (Quantos, oitocentos?)
Careço súditos...
(Vou vesti-los com cambraia
azul escuro bem escuro.)

Faço um anúncio.
“— Precisos súditos”
Ecoou, enjôo.
Vôo, perdôo. Dá tudo na mesma.
Afinal de contas, tem sempre os malditos corvos,
azul escuro bem escuro,
espreitando por aí nos nascimentos.

Esconderijos não faltam.

O que houve ontem?
Ele ouve um homem?
Comeu couve
antes de o trem passar?

Passa, logo, trem, que o céu vai ficar
azul escuro bem escuro,
cheiinho de sangue e velhice.

Mas não esquenta, guri.
Azul escuro bem escuro
é bonito. Eu gosto.
Meu gosto.
Isso posto,
prato tosco,
(risos) ele não é coxo.
Brado: nem roxo!
Nem roxo!

São eles roxos, os rouxinóis?
Assim como amarelos sãos sóis?
Tu,
pronome pessoal do caso reto da segunda pessoa do singular,
sóis andar nas calçadas
erradas,
menino? Te cuida.

Hoje, não há que nada;
prostíbulo, préstito prostrado, prado preto em pranto,
pronto, um prato pra princesa pregar.
Produtos pragmáticos em pranto.
Tudo em pranto.
Profusão de pranto.
Pranto.
Em pranto.
– Heim, Pranto?
– Nada prático que preste.

Agora deixe descansar.
Em seguida leve ao forno, acento vinte graus, leste;
vire destilado, revire sem beber. Círculo, seta.
É, amigo, desce matando, desce morrendo, desce apodrecendo.
Podre. Círculo, seta. Caneca
sueca.

Choro na choupana de chapéu,
achatado chuí chuá do chagrin descola!

– Jura?
– Juros!
Vai pagar com uma taxa altíssima.
Qual o índice de corre, ação!
Ela leu e disse que o meu futuro era
azul escuro bem escuro.
Juro.

Mas, que é isso?
Azul escuro bem escuro
no fundo bem no fundo
é só uma cor como outra qualquer,
argumentou a mulher.

Cócegas nas narinas nocivas. Nunca nasça,
promete-me? Me promete? Prometo, amorzinho.
Claro que prometo, já disse que prometo,
e a cláusula?
Não tem clausura? Tem cápsula ou casulo?
Tem clavicórdio? Tem crápulas no conclave?
Tem, sim, senhor.
Troca um troço pra eu trazer uns trogloditas traficantes?
Troca, tio, troca.
Toca, trio, toca.

Um mendigo hoje me pediu um pão de queijo,
(verdade verdadeira, hoje, três de outubro,
dê,
dois mil e oito,
eu dei um pão de queijo a um mendigo).

Ouço bem?
Outro bem?
Ou também
outro trem?
Ouro vem!
Ouro sem
outro nem
ostracismo da vida no racismo e no subúrbio.

The suburbs, in Brazil, are for the ignorant, the poor.
The suburbs are ghastly, awful places of doom. I hate them,
I will move near the beach someday, I yearn.

Mas a gente esquecer às vezes como falar o português,
e sorte que eu não. Poeta tem que saber escrever.

Poesia é arte, não é professor,
não é promotor,
não é profissão,
não é procissão,
não é percussão,
não é persuasão,
não é prolação,
não é prótese,
não é mesóclise,
não é aférese,
não é blastômero,
não é pinacoteca,
não é sinalefa.

Se eu faço poesia,
essa, assim, toda jogada,
aluno da mariposa tosca,
(risos) chamei sua mestra de mariposa, riam, pupilos,
riam, caramba!,
até você pode fazer.

Pegue papel e caneta e escreva, escreva sem pensar.
Sem pensar.
Sem penar.
Sem apelar.
Escreve, escriba, que a escrita é escrava da escória!
Na escola,
na escuna,
na escolha,
no estande,
na estante.

Mas, sempre que for fazer poesia,
sempre mesmo,
faça-a
azul escuro bem escuro.

azul escuro bem escuro

2 comentários:

Victor disse...

Uma bela verborréia.

Cássia disse...

e se você gostar de azul claro, bem claro, da cor do céu em dia de sol?