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quinta-feira, 23 de outubro de 2008

É o que acontece quando põe-se lápis e papel nas mãos de uma pessoa sem sono (ou "O Banco")

Já fazia uns bons anos que ele, o banco, estava naquela praça. Fora cortado e manufaturado a partir de uma árvore sem graça, do meio do cerrado brasileiro, mas sua vida útil, por assim dizer, começara assim que o último parafuso fixara suas bases na praça em que ele estava - como já dito - havia uns bons anos.
Desde quando surgiu, vira de tudo um pouco: casais apaixonados, bêbados, gente sem casa, animais, senhoras. Por ter tanto tempo de existência , dir-se-ia até que já fora mais do que um simples banco. Mesa, cama, ninho de amor, esconderijo, paraninfo, confidente, assento.
Não era vivo, mas existia. Existia não porter consciência de si, mas porque era. Como algo tão terno e tão antigo poderia ser qualificado como inexistente?
Mas não se preocupava em existir, inexistir ou deixar de existir. Continuava sendo. Inventava-se uma nova função sempre que possível. Descobria-se um novo objeto e isso era o suficiente.
O tempo continuava lá, parado, e à medida que as pessoas e as coisas iam por ele passando e morrendo e nascendo, ele continuava na sua eterna multi-funcionalidade.

Um dia, o mundo acabou.

Com ele, o banco, a mesa, o ninho de amor, o esconderijo, o paraninfo, o confidente, o assento, os casais apaixonados, os bêbados, a gente sem casa, os animais, as senhoras.
E tudo isso tornou-se a evolução máxima do que pode ser: matéria.

2 comentários:

Pedro disse...

Uma discussão pseudo-psico-quântica de uma epistemologia da existência do objeto. Legal à beça.

Vanessa Mendes disse...

Gostei desse também... Muito profundo!
Eu também costumo escrever bastante quando não estou com sono... E é quando os meus textos ficam melhores =)