Era seu primeiro dia sozinho em casa e até então tudo havia corrido bem, o que era bem lógico, pois acordara havia uns trinta e sete minutos. Como não morresse, tudo havia corrido bem. Ótimo.
O recado na geladeira era tentador: "Querido filho, mamãe foi ao médico e volta tarde. Tem arroz na geladeira. Asse uns nuggets para você. Te amo!", mas ele buscava mais.
O arroz, tudo bem, estava pronto. Mas como acompanhamento...
Recusava-se a preparar aqueles frios empanados no forno elétrico, apesar de já ter feito isso uma boa dezena de vezes.
Hoje era um dia especial. O dia da sua libertação, quando das suas mãos sairia o alimento necessário à sua vida. Épico!
Metódico como um cientista, o menino de 13 anos colocou sobre a bancada tudo o que precisava para sua aventura culinária: ovos, presunto, colher de pau, queijo, prato, manteiga, sal, frigideira e coragem.
Acender o fogão era simples: já havia visto a mãe fazê-lo várias vezes.
Findo o desafio de controlar o fogo (já se sentia tão superior aos homens das cavernas, o menino!), copiou com cuidado a memória dos gestos da mãe.
Nada havia de complicado. Precisou apenas pôr a manteiga na frigideira, colocar a frigideira no fogo, bater os ovos no prato (ai, que dor!), derramar com leveza os ovos batidos na frigideira, despejar um pouco de sal sobre os ovos batidos, esperar o ponto, virar a omelete e voilà! Estava pronto seu divino acompanhamento.
O resultado, para o pequeno, fora tão delicioso que, apesar da pouca experiência em cozinha, já não se considerava um reles "piloto de fogão".
Era um motorista!
Proposta:
O fim de uma era
3 comentários:
um motorista!!
ah, os momentos de revolução interna! ^^
o imprevisível previsível me fascinou muito. um ótimo jogo de palavras. te adoro.
É prescindível dizer que adoro. Di-lo-ei mesmo assim: "adoro".
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