Venho aqui dizer-lhe o porquê de ter me aposentado assim, tão cedo. Não foi por invalidez, não foi por tempo de trabalho, não foi por idade. Aposentei-me, amigo, por excesso de humanidade.
Foi adolescente que inspirou-me a luz de tornar-me massagista. Entretanto, já em dois meses de trabalho, não havia controle emocional que suportasse meu infeliz fardo.
Talvez você, que lê, pense que se trata de uma profissão fácil, comparável, quiçá, à das prostitutas: pagas para proporcionar prazer para pessoas pesadas de tanto trabalhar. Meu dever era o de tirar o peso do mundo dos ombros dos outros.
Mas quem dera, meu caro, que fosse para sempre. Eu, ao mesmo tempo em que era anjo redentor do sofrimento alheio, era o carrasco que tinha o triste dever de retornar cada um a sua respectiva via-crucis.
Conseguia ser o criador e o destruidor das paisagens mais belas: campos de gramados verdejantes e jardins de tulipas vermelhas sob um céu azul e límpido tornavam-se novamente a selva de pedra em que cada um de nós existe.
Era a pura expressão viva do "tirar doce de criança". Para quê aliviar suas dores, se era obrigado a deixá-la no lugar onde a encontrara, como ela fosse um brinquedo com o qual brincamos, interagimos, modificamos e guardamos?
Se fui, amigo, um canal anestésico da angústia de alguém, prefiro que não tivesse feito, pois mais vale a dor que passam do que a nostalgia do que nunca poderia ter sido.
Desafio da Última Linha
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Desafio dos Títulos -Encerrado
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2 comentários:
Que forte! E meio triste também. Mas muito bem escrito e bonito. Quem disse que pra ser bonito tem que ser alegre?
li "aposentado" pensei: meu pai.
daí li: "massagista": pô é ele mesmo !!
belo texto, concordo com a de cima, nada a ver ser feliszinho pra ser um bom texto.
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